sábado, setembro 30, 2006


Mais do que um jogo

Em determinados momentos da vida, todos nós somos confrontados com situações em que temos de fazer escolhas, escolhas essas que por norma reflectem quais são as nossas prioridades. Contudo, nem todos nós podemos dar-nos ao luxo de escolher; há casos em que ou há alguém que escolhe por nós ou então todo o panorama da situação inviabiliza qualquer escolha, seja ela qual for.
Vem isto a propósito de Ruud Van Nistelrooy, avançado holandês que pertence aos quadros do Real Madrid. Na semana que agora acaba, Van Nistelrooy pediu autorização aos dirgentes do clube madrileno para ser dispensado do embate entre os merengues e o Dínamo de Kiev, em jogo a contar para a Liga dos Campeões, para poder estar presente no nascimento da filha. Tal pedido foi negado. Van Nistelrooy jogou mesmo contra os ucranianos e os dois golos que apontou na fácil vitória por 5-1 não apagam o facto de não ter podido ouvir o primeiro choro da sua filha.
Agora pergunto eu: onde chegou o futebol de hoje, em que um dos clubes mais poderosos da Europa, com um plantel riquíssimo, não se pode permitir a libertar uma das suas unidades de um jogo teoricamente acessível, nem sequer para assistir ao nascimento da própria filha? O futebol é suposto ser só um jogo...mas pelos vistos é muito mais do que um jogo. E isto é incompreensível.

quarta-feira, setembro 27, 2006


Caso "Meu Deus!"

Pouco a pouco, o famoso "caso Mateus" vai deixando de fazer parte do nosso quotidiano desportivo. Pouco ou nada percebo de justiça; como tal, é-me completamente impossível explicitar todas as voltas, contornos e arestas judiciais deste processo. Resta-me apenas dar uma opinião completamente leiga, que é esta: o caso Mateus é nada mais nada menos que um simples caso de "chico-espertismo".
Resumindo, isto é apenas mais uma situação como tantas outras que experienciamos no nosso quotidiano, em que A procura obter algo passando a perna a B, C e aos que forem necessários. Assim sendo, o Belenenses, que falhou a permanência durante os 34 jogos do último campeonato, descobriu uma forma fácil de ficar na divisão principal, que foi denunciar uma irregularidade praticada pelo seu adversário; o Gil Vicente, como um menino apanhado a fazer asneira, procura fugir ao seu destino de qualquer forma; e por fim, o Leixões, que se acha no completo direito de requisitar algo que não conquistou em campo. Ou seja, cada um procura ser mais esperto que o outro.
Quando já se esperava que tal situação se arrastasse, bastou uma simples mas séria ameaça da FIFA para que todos se mexessem. Até o célebre Apito Dourado conheceu novos desenvolvimentos, caso que se mantinha em lume brando já há algum tempo.
O resultado final é uma vergonha para o futebol português, nada mais. Dificilmente existirá alguém que saiu a ganhar com isto, excepto, claro, os advogados. E é por isso que, depois de tanta trapalhada, só apetece mesmo bradar aos céus.

sábado, setembro 02, 2006


Quem faz nunca mais esquece

Se em relação ao facto de andar de bicicleta se diz que quem aprende nunca mais esquece, pode-se dizer que, no futebol, quem faz um golo de bicicleta também nunca mais esquece.
O pontapé de bicicleta é um dos gestos técnicos mais bonitos e vistosos que o futebol tem para oferecer. A sua execução não é fácil: o jogador deve tentar chutar a bola acima da sua cabeça estando de costas para a baliza. Tal movimento pode ser perigoso, pois se o atleta cair mal pode lesionar-se com alguma gravidade, razão pela qual alguns jogadores admitem ter receio de experimentar esta habilidade.
Inicialmente, a invenção do pontapé de bicicleta foi atribuída a Leónidas da Silva, avançado brasileiro da década de 30. Quando Leónidas executou este pontapé, muitos pensaram que o jogador tinha adaptado um movimento da famosa arte de Capoeira ao futebol. Contudo, anos mais tarde provou-se que a invenção pertence a Ramón Asla, um jogador nascido em solo espanhol mas que se encontrava a representar o Chile. Quando Asla, 20 anos antes de Leónidas, executou este movimento, alguns jornalistas que seguiam o jogo e não sabiam como designar aquele pontapé chamaram-no de chilena; ainda hoje o pontapé de bicicleta tem este nome na gíria futebolística espanhola.
Ao longo dos anos, têm sido muitos os golos marcados desta maneira, sempre espectaculares; contudo, na minha opinião, o pontapé de Mauro Bressan, na altura jogador da Fiorentina, no fantástico jogo da Liga dos Campeões, época 1999/2000, que opôs a sua equipa ao Barcelona (3-3), foi o melhor pontapé de bicicleta de sempre. É tudo aquilo que um pontapé destes representa: criatividade, risco, habilidade, fantasia. E o melhor de tudo, resultou num grande golo.

Nota: O golo de Mauro Bressan está disponível em http://www.youtube.com/watch?v=dbX1LlS0CEY